14 de março de 2009

Sem medo da biologia molecular

As técnicas de biologia molecular envolvendo manipulação de ácidos nucléicos começaram a surgir principalmente depois que a estrutura do DNA e o pareamento de bases foram elucidados em 1953 por Watson e Crick. Este simples artigo de duas páginas simplesmente abriu as portas para um mundo de novas possibilidades na biologia. Apenas 55 anos depois, a quantidade de abordagens moleculares disponível é enorme e só faz crescer. Genomas inteiros foram e estão sendo seqüenciados. É possível modificar geneticamente organismos, inclusive mamíferos. É possível quantificar a expressão de um, 100 ou 10 mil genes em um único experimento. É possível utilizar microrganismos para produzir em grande escala proteínas de outras espécies, como é feito com a insulina humana em bactérias Escherichia coli. Estes são apenas alguns exemplos destes avanços, mas já representam muita coisa: a quantidade de informação que se pode acessar com estas abordagens é imensa e um dos principais desafios tem sido justamente lidar com tanta informação.

Portanto, a biologia molecular só tem a acrescentar às técnicas já existentes. Com ela, é possível entender os processos biológicos mais intrinsecamente. É possível olhar para o nível mais básico, mas não menos importante de um organismo: o nível genético. As mais diversas áreas das ciências biológicas podem lançar mão da biologia molecular. No entanto, em algumas áreas acredito que ainda há alguma ou muita resistência. Por exemplo, a ecotoxicologia (a minha área) onde alguns são um pouco resistentes a idéia, temendo que a biologia molecular substitua as técnicas tradicionais para testes ecotoxicológicos. Na minha opinião, esta não é uma posição própria de um cientista: se uma técnica é melhor que a outra para responder uma mesma pergunta, que se substitua uma pela outra! Este é o objetivo. Mesmo excelentes cientistas deixaram de fazer grandes descobertas por estarem presos a conceitos e idéias. Não podemos ter medo do novo e nem nos acorrentar a uma idéia! Partimos de pressupostos, mas não podemos deixar que os mesmos ajam como âncoras e nos impeçam de ver uma possibilidade nova a nossa frente. Enfim, ao meu ver, um cientista tem que ter critérios mas tem também que ser open mind.


No entanto, particularmente na ecotoxicologia, por enquanto não acho que seja o caso de substituir uma coisa pela outra. As técnicas moleculares dão acesso a informações em um nível de organização biológica diferente das demais técnicas e vem a acrescentar no nosso entendimento dos mecanismos de toxicidade. E o mais importante é que podem nos permitir prever efeitos em níveis de organização biológica maiores, efeitos tardios e mais graves ecologicamente! A palavra importante aí é “prever”. Podemos prever os efeitos quando ainda há o que ser feito! E nisso a biologia molecular é pioneira. Pois as demais técnicas mostram os efeitos em níveis de organização maiores e, portanto, quando algum dano já foi feito. Pelo menos isso é o que eu penso, mas eu ainda sou peixe (ou seria melhor dizer ostra hehe) pequeno.

2 comentários:

Fabricio disse...

Caraca, que legal esse artigo! Nunca tinha lido hehe. E realmente, grandes descobertas tendem a não significar papers de 10pg. Eintein publicou suas grandes descobertas em papers de 1 página!!!
Entendo essa desconfiança da biologia molecular. Na filogenética, área em que se estuda as relações de parentesco entre espécies, existem aqueles que trabalham com DNA e aqueles com morfologia. E eles não se misturam!
Também acredito que a molécula nos dê uma informação mais atual e precisa que a morfologia/testes ecotoxicológicos. Mas vai dizer isso a alguém que há 20-30 anos usa as outras técnicas.
Apesar do cientista ser aquele cara racional, que deve utilizar as técnicas mais adequadas etc., ele também é humano e se apega a determinadas rotinas de trabalho e a idéias. Então, por esse lado, eu até entendo a questão da demora na mudança. Mas o que não pode ocorrer é o cientista fechar a mente para novas possibilidades de mudanças, principalmente se forem mudanças para melhor!
E adorei a última figurinha hehehe!

Juliana Americo disse...

Pois é, eu so acho que temos que manter a mente mais aberta, mas mantendo sempre a cautela e procurando validar bem estas novas tecnicas...è claro, sei que por mais que cientistas tenham que ser racionais, somos humanos, nem sempre consiguimos ser tao racionais e imparciais, alèm de que as vezes existem outros interesses em jogo!

Ah achar estas figurinhas engraçadas è a parte mais divertida de ter um blog! hehehe